Por que narcisistas fogem do espelho?
- Getulio Tamid

- há 4 dias
- 3 min de leitura

Já reparou que pessoas com traços narcísicos tratam a autoanálise como se fosse fogo? Eles se vendem como autoconfiantes, imbatíveis, quase deuses do próprio mundo… mas basta falar em olhar para dentro que o chão treme.Por quê?
A resposta mora na arquitetura psíquica do narcisismo: um castelo erguido para brilhar por fora, mas sustentado por vigas feitas de vidro por dentro. E é aí que entra O Monstro em Mim, série da Netflix que esfrega na nossa cara — sem dó — o que acontece quando máscaras são levadas ao limite.
O narcisismo muito além do espelho
Primeiro, um ponto básico: narcisismo não é só vaidade.Não é tirar selfie demais.Não é gostar do próprio cabelo.
É uma construção emocional que depende de três pilares frágeis:
Um senso inflado de importância, construído como armadura.
Uma fome de validação, eterna e insaciável.
Uma dificuldade profunda de empatia, porque olhar para o outro implica reconhecer limites em si mesmo.
Na mitologia, Narciso se apaixona pelo reflexo.Na psicologia, o narcisista foge dele.E esse paradoxo é a chave de tudo.
A auto-reflexão como ameaça ao EU
Para a maioria das pessoas, refletir sobre si é desconfortável, mas possível. Para o narcisista, é um terremoto
A auto-reflexão exige entrar em contato com:
Medos primitivos
Falhas pessoais
Vulnerabilidades
Responsabilidade emocional
E esses pontos são justamente os que o narcisismo tenta enterrar com toneladas de defesa psíquica. É por isso que, diante de qualquer possibilidade de autoconfronto, o narcisista reage como um animal acuado: atacando, fugindo ou distorcendo a realidade.
É aquele velho truque mental: “Se eu não admitir, então não existe.”Um mecanismo primitivo, mas extremamente eficiente para proteger o ego frágil.
O Espelho estilhaçado em "O Monstro em Mim"
Na série O Monstro em Mim, vemos personagens que vivem exatamente nesse ponto de ruptura. Pessoas comuns que carregam segredos sombrios e evitam encarar sua própria sombra. Cada episódio mostra alguém lutando contra um “monstro interno” — muitas vezes um trauma, um padrão, uma história que insiste em voltar.
A conexão com o narcisismo é quase cirúrgica:
As máscaras sociais impecáveis
A dificuldade de reconhecer responsabilidade
A criação de narrativas para preservar a própria imagem
O medo visceral de encarar quem realmente são
Em vários personagens da série, o “monstro” não é um demônio literal — é um aspecto de si mesmos que nunca foi integrado, pensado, simbolizado.Exatamente o que o narcisista evita com todas as forças.
O Monstro em Mim escancara o preço de fugir de si mesmo: quanto mais você corre, maior o monstro fica.
O impacto nos relacionamentos
Conviver com alguém assim pode ser um labirinto emocional.As defesas rígidas impedem diálogo, crescimento, responsabilidade afetiva.
Você tenta conversar, e ele:
vira o jogo,
distorce a realidade,
te culpa,
muda de assunto,
ou cria uma cena dramática para desviar o foco.
Tudo para não olhar para dentro.
Na série, vemos o mesmo movimento: quando personagens se aproximam de suas verdades internas, a tensão aumenta. Muitos tentam escapar. Mas sem encarar o monstro, não há redenção possível.
O que podemos aprender com isso?
Tanto na clínica quanto na vida real, quanto em O Monstro em Mim, a lição é clara:
Encarar a própria sombra é doloroso — mas fugir dela custa muito mais.
No narcisismo, o monstro interno é a ferida primitiva:a insegurança escondida, o medo de ser comum, o terror de não ser admirado.
E quanto mais o narcisista evita se ver, mais se perde da realidade e das relações.
Se há algo que a série e a psicologia concordam é isso:não existe cura possível sem coragem. Coragem de olhar o espelho mesmo quando ele treme.Coragem de abraçar a própria falha como parte da história, não como sentença.
No fim das contas, o que diferencia o humano do monstro não é ausência de sombra —é a capacidade de iluminá-la.
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