Sublimação na Psicanálise: transformações das pulsões
- Getulio Tamid
- 16 de set. de 2024
- 3 min de leitura

Na psicanálise, o conceito de pulsão é central para entender a dinâmica dos desejos e como eles se manifestam ou são reprimidos. Um dos destinos possíveis da pulsão, e talvez um dos mais complexos e fascinantes, é a sublimação. Neste artigo, gostaríamos de explorar esse conceito com base em uma análise profunda das ideias de Freud e contribuições posteriores de Jacques Lacan e outros autores.
O que é Sublimação?
Sublimação é um dos destinos que a pulsão pode tomar. Diferente do recalque, em que a energia pulsional é reprimida e causa sintomas neuróticos, a sublimação transforma essa energia em algo socialmente aceito e até valorizado. Em outras palavras, é o processo pelo qual desejos de origem sexual ou agressiva são redirecionados para atividades como arte, ciência ou esportes.
Freud nunca escreveu um texto exclusivo sobre a sublimação, mas abordou o tema em diferentes momentos de sua obra. Um dos textos mais importantes em que isso aparece é As pulsões e seus Destinos (1915), onde ele fala sobre os quatro destinos da pulsão: reversão ao seu oposto, retorno ao próprio corpo, recalque e sublimação. No entanto, Freud não explora a sublimação de forma tão detalhada como faz com os outros destinos.
Outros Destinos da Pulsão
Além da sublimação, Freud descreve três outros destinos possíveis para a pulsão:
1. Reversão ao seu oposto: A pulsão se transforma em seu oposto. Por exemplo, uma pessoa extremamente agressiva pode, na verdade, estar escondendo um medo ou insegurança profunda.
2. Retorno ao próprio corpo: A energia pulsional, quando não encontra um objeto no mundo externo, retorna ao próprio corpo, o que pode gerar alucinações em casos de psicose.
3. Recalque: A pulsão é reprimida e gera sintomas neuróticos. A energia pulsional é deslocada para o inconsciente, mas continua a influenciar o comportamento de maneira indireta.
A Relação entre Sublimação e Recalque
Freud menciona que sublimação e recalque são dois polos opostos. Enquanto no recalque a energia pulsional é reprimida, na sublimação essa mesma energia é transformada e redirecionada para algo produtivo e aceito socialmente. Freud observa que atividades humanas como a arte, a investigação científica e os esportes são exemplos clássicos de sublimação, onde a energia sexual é redirecionada para esses campos não sexuais.
Lacan, em seu livro A Ética da Psicanálise, também explora o tema da sublimação. Ele oferece uma leitura contemporânea e amplia o conceito ao focar na relação entre o desejo e o objeto da pulsão, trazendo uma nova perspectiva sobre como essa transformação ocorre na vida do sujeito.
Sublimação: Um Processo Incompleto?
Embora Freud tenha tocado no conceito de sublimação em vários de seus textos, ele nunca elaborou uma teoria conclusiva sobre o tema. Ao longo da obra freudiana, encontramos referências pontuais, mas o conceito nunca é tratado de maneira isolada. Ao falar de sublimação, Freud muitas vezes usa o termo "desvio", referindo-se à capacidade da pulsão de se transformar em algo socialmente aceito, como atividades artísticas ou intelectuais.
Exemplo Prático: Da Perversão à Sublimação
Um exemplo frequentemente citado na literatura psicanalítica é o caso de uma criança que, na infância, gostava de dissecar animais pequenos. Na fase adulta, essa mesma pessoa pode canalizar essa pulsão para uma profissão como a de cirurgião ou dentista. O que seria visto como algo cruel ou perverso na infância é transformado em uma atividade útil e valorizada na vida adulta, através do processo de sublimação.
Freud observa que as crianças têm uma sexualidade polimórfica, ou seja, são capazes de sentir prazer de várias formas e por diferentes partes do corpo. Durante o desenvolvimento, a cultura e as normas sociais forçam a criança a abdicar de algumas dessas formas de prazer. A sublimação, portanto, é o mecanismo que transforma essas pulsões em algo que contribui para a sociedade.
Enfim...
A sublimação é uma das formas mais sofisticadas de lidar com as energias pulsionais. Diferente do recalque, que gera sofrimento e sintomas, a sublimação oferece uma saída positiva, permitindo que a energia seja transformada em algo produtivo. No entanto, como aponta Freud, esse processo nem sempre é fácil de distinguir de uma neurose ou de uma reversão ao oposto. Em alguns casos, o que parece ser sublimação pode esconder um sintoma neurótico.
A compreensão desse conceito é fundamental para entender como as pulsões operam na vida psíquica, influenciando tanto os comportamentos destrutivos quanto as grandes realizações humanas. Freud, Lacan e outros autores oferecem pistas para desvendar esse enigma, mas o mistério da sublimação ainda desafia os estudiosos da mente até os dias atuais.
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