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Histeria e contemporaneidade



Falar sobre a histeria parece ser uma tarefa fácil mesmo porque os termos “histérico” ou “histérica” já foram muito usados em todos os lugares no nosso país tanto na mídia quanto nas conversas de bares ou até mesmo no ambiente de trabalho.


Basta uma explosão de emoção ou uma fala mais enérgica para que os amigos ou colegas de trabalho rotulem a tal pessoa como alguém histérico. Contudo este termo com seu significado profundo, vai muito mais além do que um titulo para designar a falta de controle emocional.


O estudo sobre a histeria do Doutor Sigmund Freud, nos mostra que há muito mais mistérios entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia como disse Shakespeare em Macbeth. Não que a filosofia seja vã em si e não traz respostas mas sabemos que a filosofia, muitas vezes, não trará muitas respostas aos dilemas da vida e suas fases e nem mesmo para os mistérios do funcionamento do cérebro humano que vêm sendo muito mais estudado pela neurociência atualmente, pelo contrário, trará mais indagações ainda.


Da mesma maneira vemos que as indagações e perguntas foram essenciais no trabalho do Doutor Freud em mapear e investigar as origens e causas da histeria. A história nos mostra que doenças como a histeria, depressão, ansiedade e outros transtornos não eram considerados naquela época, como doenças e sim como possessões demoníacas, demência, loucura, insanidade e outros apelidos dados pelo povo em um senso comum.


Porém foi através da investigação e estudos feitos por notórios médicos tais como Jean-Martin Charcot e o Doutor Joseph Breuer que ajudaram Sigmund Freud a investigar e explorar o inconsciente dando a este, campo para entender a histeria. Uma curiosidade importantíssima que merece atenção, é que naquela época, isto é, em meados dos anos 1830-1845, acreditava-se que a histeria era somente algo que pertencia ao universo feminino e que raramente um homem sofreria com este mal, porém mais tarde, descobre-se que homens também desenvolveriam este transtorno.


Mas afinal, o que é histeria?


O significado da palavra têm sua origem na lingua Grega que quer dizer útero. Este termo foi utilizado pelo filósofo Grego, Hipócrates que acreditava que o movimento irregular do sangue no útero poderia causar danos ao cérebro.


De acordo com a Psicanalise, a histeria é uma neurose complexa que se caracteriza como instabilidade emocional. Esta, se dá devido aos conflitos interiores tais como traumas de infância e outras experiências traumáticas no qual resulta em alguns sintomas físicos tais como cegueira, paralisia, surdez, doenças psicossomáticas e até mesmo transtorno de personalidade.


As pessoas acometidas de histeria perdem totalmente o controle emocional causado pelo pânico agudo. Sendo assim pessoas histéricas se comportam como se uma situação de extrema emergência estivesse acontecendo o tempo todo. Um dos motivos pelos quais a histeria acontece é devido ao recalcamento de sentimentos, principalmente aqueles que de certa forma foram praticamente esquecidos ou enviados e “trancados” no subconsciente a fim de que o individuo pudesse de certa forma, sobreviver ao trama sem mais sequelas emocionais.


Porém sabemos, através da psicanálise, que estes sentimentos recalcados em um dado momento da vida do individuo se desprendem do subconsciente através de gatilhos que disparam a memoria afetiva afetada no profundo da mente. Estes gatilhos podem ser quaisquer coisas relacionadas aos eventos traumáticos tais como sensações, odores, música, sons diversos ou até mesmo ruidos.


No início de sua investigação sobre os problemas mentais, o Doutor Freud obteve muita influência do neurologista francês, o Doutor Jean-Martin Charcot, que acreditava que os pacientes histéricos sofriam de uma anomalia no sistema nervoso e este pensamento fez com que Freud pensasse em novas alternativas de tratamento.


Entre os anos de 1885 e 1886, Freud viaja à França para aprender a técnica de hipnose. Através desta técnica ele percebe que atraves da indução de um estado mental alterado era possível encontrar dados importantes na memória do paciente que fazia que sintomas poderiam aparecer ou desaparecer. Porém por falta de experiência, Freud se vê obrigado a tentar outra estratégia. Foi então que ao conhecer o Doutor Joseph Breuer, fica sabendo que este aplicava uma técnica que consistia em somente pedir que o paciente descrevesse os fatos, isto é, suas alucinações e fantasias no qual era suficiente para que através destes momentos de catarse, o paciente pudesse ser induzido a rememoração das cenas e entendesse o real motivo das fobias e dos sintomas.


A este método foi dado o nome de “Método Catártico”. Hoje em dia a histeria acabou caindo no esquecimento, mesmo tendo sido muito importante para a história da psicanálise, porém ao perceber os sintomas e as diversas outros transtornos mentais e comportamentais da nossa sociedade contemporânea, podemos afirmar que a histeria se apresenta nos dias de hoje em formas diferentes, isto é, com outras facetas e que ainda merecem ser estudadas.


Nos tempos do Doutor Freud, a histeria estava ligada ao recalque e principalmente à renuncia das pulsões em detrimento de ideais substitutivos e sublimáticos. Em contrapartida vivemos hoje em uma sociedade que valoriza a realização plena de todos os desejos sem restrições. Isto acaba sendo também um motivo pelo qual vivemos em uma sociedade que está adoecendo e se tornando histérica coletivamente.


Concluo dizendo que ainda se faz muito necessário à psicologia e à psicanálise, o aprofundamento do estudo da histeria dentro de um escopo contemporâneo, atualizado e contextualizado.


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